domingo, 26 de abril de 2009

Prólogo

Alí, apontava o rapaz com o gorro do botafogo. Ele não era torcedor do botafogo mas precisava de um gorro preto, afinal, um criminoso que se preza não sai por aí mostrando a cara, dizem que quando você morre todo mundo que te viu fazendo besteira aparece pra te caguetar e se ninguém te viu, ninguém pode dizer nada. É óbvio que esse é um pensamento estúpido, afinal se o céu serve de alguma coisa, deve ser para expor a verdade e se Deus é aquele que tudo sabe, um gorro, ainda mais de um time carioca, jamais esconderia a verdade dEle.

Eram mais tres com aquele do botafogo, um com uma meia-calça preta cobrindo-lhe o rosto, outro com um gorro de ski, este suava às bicas, e o terceiro com um gorro de algum time de futebol americano. O Jogador mandou a gente ser rápido, o homem do gorro preto era o mais alto de todos e o mais forte, tinha uma voz grave que imprimia certo respeito, Que nome tosco, riu o da meia-calça, quem é que usa esses nomes ridículos, Ele tinha o dinheiro e por esse tanto eu chamava ele de mamãe, todos concordaram rindo.

Os quatro observavam um prédio pequeno, quatro andares apenas, o objetivo era o terceiro. Com a chave do apartamento em mãos não seria necessário sequer arrombar a porta. Chovia um pouco, a sobra do dia, e as calçadas que estavem, como sempre, em péssimo estado eram armadilhas eternas. Eles atravessaram a rua chegando à portaria que não tinha proteção alguma exceto um cadeado velho que mesmo sem as chaves não seria problema algum

O do gorro de futebol americano, prontamente apelidado de gringo, estava com as chaves e foi até o cadeado. O portão de ferro fez um gemido irritante quase de dor e todos disfarçaram e fingiram não ver o sorriso ou ouvir a risada abafada do homem da meia-calça. Mais acima das escadas que se somavam à frente da quadrilha havia uns quadros, não aquelas cópias baratas de quadros famosos mas aqueles que se encontra em qualquer supermercado com molduras baratas e motivos de vasos com plantas ou natureza morta. Enquanto subiam um mau cheiro começava a ser sentido, excrementos e vômito, era o mais provável, a principio poderia se imaginar um lugar cheio de bêbados, e o que não falta é vagabundo pra ficar bêbado nessa cidade, mas não era das paredes que emanava a podridão, parecia que ela se estirava por debaixo das portas, caso o pequeno retrato de orquídeas não tivesse sido pintado por um autor tão desconhecido talvés elas tivessem murchado.

Quando chegaram ao terceiro pavimento o mal cheiro se intensificou, parecia agora carne putrefada, do lado de fora a chuva que caía ha mais de três dias disfarçava o cheiro mas dentro, era nauseante. Porém apesar do nervosismo geral eles continuavam, e quando o gringo foi à porta com as chaves a risada macabra do homem da meia-calça tornava-se impossível de ignorar. É de sabedoria universal que existem muitos níveis de personalidade entre os homens e que desde sempre, dentro de determinado grupo, havia formas de determinar quais dessas eram toleráveis ou não. A prova disso é o sistema jurídico, que existe, de uma forma ou de outra, em qualquer país do mundo. É por isso que não é de se estranhar que entre criminosos existam esses níveis e que podemos intuir mais ou menos que os crimes “explicáveis”, ou seja, que tenham motivação material estejam no topo da lista separando ainda aquelas necessidades materiais básicas das mais fúteis, essas acima destas. E na base dessa hierarquia, por assim dizer, estão os crimes que não têm base material, estupro, tortura, homicídios sádicos e etc que são executados pelo aspecto mais perverso da humanidade, que alguns alegam que não é nem humanidade, o que é, naturalmente, um absurdo. Os homens que acompanhavam o do gorro de meia-calça olhavam-no com muito medo, parecia ser o único dalí que tirava daquela situação alguma espécie de prazer.

Aberta a porta o fedor nauseante da putrefação adiantada tomou o corredor e todos vomitaram. Começou com o gringo que quase não conseguiu tirar o gorro a tempo depois o botafogo e em seguida o do gorro de ski. O da meia-calça tirou pacientemente seu “disfarce” e vomitou do lado do seu corpo sem dar sinais de náusea. Foi o primeiro a entrar no apartamento. Botafogo, tentando se concentrar seguiu o homem do gorro de meia-calça, atrás dele o que vestia o gorro de ski, o gringo não quis entrar parecia por demais enjoado e acreditava que seu papel de chaveiro havia sido cumprido.

Estão todos mortos, dizia já gargalhando o do gorro de meia-calça, todos aqui estão mortos. A fala daquele homem sinistro não representava nada demais para os que se encontravam naquele apartamento, as palavras na verdade ameizavam um pouco aquela cena horripilante: Em um sofá da sala jazia um homem estrangulado ainda com a arma do crime em volta do seu pesoço, Estão todos mortos, dentro do quarto uma mulher que de tão desfigurada, poderia ser facilmente confundida com um homem de vestido banhado em sangue, Estão todos mortos, ao lado da cama um berço com uma criança que deve ter passado mais tempo no ventre materno do que do lado de fora, sorte, alguns diriam.

Estão todos mortos, por algum motivo de todas as vezes que o homem do gorro de meia-calça disse essa mesma frase, entre gargalhadas e risos abafados, essa, em particular, levou os fortes punhos do homem do gorro de ski ao seu rosto e estomago, Cale-se e vamos terminar logo com isso. Com o som das risadinhas abafadas do homem do gorro de meia-calça ao fundo, botafogo tirou do seu bolso uma pequena caixa de metal, O que é isso? Foi o que o chefe me mandou fazer, Chefe?, É, o tal Jogador, ele me mandou deixar isso aqui num lugar bem fácil de ver, Ele me mandou queimar tudo, me deu essa maleta disse que era só abrir e botar o código, aí temos cinco minutos pra sair, Mais do que suficiente, Vocês não entendem, todos nesse prédio estão mortos, o homem do gorro de ski deixou a maleta sobre o criado mudo e foi em direção ao homem do gorro de meia-calça pegou-o pelas golas da camisa e o prensou contra a parede, Olha aqui meu velho eu não tou nem aí se o quarteirão inteiro tá morto eu sou quero armar esse brinquedo aqui, dar o fora e pegar minha grana tá ligado? E se você não calar essa porra dessa boca você vai ver essa belezinha aqui pocar de dentro do quarto, sacou?, A verdade, que ninguém vai saber, é que o cara de gorro de ski morria de medo do homem que ameaçava, faz parte daquela hierarquia dos criminosos, o homem do gorro de ski estava no topo da hierarquia, foi despedido do seu emprego de segurança de boate porque se exaltou demais com o cara errado, fazia isso pela grana e com o orgulho ferido, o outro desejava ter matado aquela família e fantasiava imaginando como fazer isso de forma bem dolorosa, ou seja, estava bem em baixo da pirâmide.

O homem de gorro de meia-calça segurou a risada até que o do gorro de ski o largasse, e a medida que este se afastava aquele ria cada vez mais. O gringo aparece na soleira da porta do quarto com botafogo ao seu lado, E aí, acabamos com isso ou não?, Quase pronto é só eu abrir isso aqui...

E sob os ecos das sinistras gargalhads do homem do gorro de meia-calça o prédio veio abaixo.

4 comentários:

Athos disse...

Com um prólogo desses, só espero q reste alguém vivo até o final da história...

Athos disse...

ah, a risada do cara-de-gorro-de-alguma coisa merecia mais destaque...

D'Artagnan disse...

relaxe, tem um bocado de gente pra morrer ainda.

a idéia era dar mais destaque mesmo mas fiquei sem saber como descrever isso, vou dar uma mexida...

Athos disse...

pensei em escrever uma história paralela, tlvz de um policial investigando isso...