domingo, 29 de março de 2009

Proxima parada: Dubai - Parte 2




Então, pegamos o vôo da Emirates Airlines para Dubai. A parte interna do avião era ampla, com cadeiras espaçosas – se compararmos com as demais empresas – e diversos apetrechos para tornar a viagem de quatorze horas menos cansativa. A parte mais interessante eram as palavras em árabe escritas nas cadeiras e etc. Foi inevitável procurar com se escreviam todos aqueles avisos de sempre: não fumar, apertar o cinto, fechar a braguilha, amarrar o cadarço... Isto sem falar nas aeromoças usando um chapeuzinho vermelho na cabeça, com um véu caindo do lado esquerdo. Difícil era diferenciar o quando o capitão estava falando árabe e quando estava falando inglês, todos eram igualmente ininteligíveis.

Apesar da longa duração, a viagem não foi nada cansativa. Além das dezenas de filmes, seriado, jogos e canais de notícias à nossa disposição, do delicioso salmão servido numa das tantas refeições e da conexão à internet, a expectativa de conhecer o oriente médio e participar de uma reunião de cúpula de líderes sul americanos e árabes deu ânimo o necessário. Nesse tempo pude ainda fichar um livro de direito civil, ouvir a história centenária da família do japonês que estava do meu lado e começar este relato.

Finalmente, o capitão disse: Atenção senhores passageiros, começaremos agora nosso procedimento de descida até o aeroporto de Dubai. Pelo menos foi isso que imaginei ouvir, o japonês perguntou por que o piloto estava dando receita de bolo e se ele podia colocar margarina no lugar da manteiga. Do lado de fora havia apenas nuvens e raios, que traziam uma desconforte lembrança algumas cenas de lost. Em um telão a frente se via os números 4, 8, 15, 16...

Tendo sobrevivido ao pouso, começamos nossa peregrinação pelo aeroporto. Na realidade, nosso destino final era Doha, no Qatar, e o portão de embarque era o 128. Levou apenas uma hora para acharmos o primeiro deles. No chão, vimos um esqueleto com um ticket nas mãos, onde se lia Gate 104. Passamos por lojas de todas as grifes internacionais de roupas, perfumes, carros e comida, mulheres com véus de diversas as cores e tamanhos, homens com bigodes também variados e uma fonte. Descemos por um elevador de vidro, com colunas douradas e piso de mármore, paramos num pub para tomar um chopp e, enfim, nos deparamos com uma placa que dizia em árabe e em inglês, Parabéns, você chegou no portão 128.

Agora, faltavam apenas quarenta e cinco minutos para chegar na minha primeira cidade árabe...

sábado, 28 de março de 2009

Proxima parada: Dubai - Parte 1




Eram cerca de seis horas em Salvador e o Sol se punha enquanto o avião vermelho e branco se levantava com destino à São Paulo. Novamente, regressava à esta cidade, para, de lá, rumar a um destino improvável, desta vez Dubai.

Apenas uma semana antes, havia recebido uma ligação súbita com o convite para ir aos Emirados Árabes. O porquê, o como, o com quem, dentre outras perguntas igualmente sem importância, foram todas esquecidas: tudo que me foi dito foi o quando: 24h para decidir se queria ir ou não e mais seis dias para organizar tudo. Já que era óbvio que eu queria ir, ganhei mais um dia para a tarefa simples de convencer meus chefes de que seria bom me liberar por dez dias do trabalho, para uma viagem que eu não sabia os detalhes; convencer o coordenador da minha faculdade de que o aprendizado que eu iria ganhar justificava retirar minhas faltas; obter os documentos necessários; organizar minhas coisas, etc...

Obviamente, esta semana pareceu durar um mês, mas passou rápido. Tudo resolvido, ou postergado para depois da viagem, fui ao aeroporto de Salvador e fui recebido com a seguinte notícia: houve um problema com nossos passaportes, vamos torcer para eles estarem São Paulo, senão a viagem vai ser cancelada. Então, lá estava eu, sentado no avião, ainda sem fôlego por causa dos últimos sete dias e com a perspectiva de tudo ter sido em vão. Mas, sinceramente, não estava preocupado. Como deixei entrever acima, não era a primeira viagem que fazia nesse ritmo e o inesperado já era corriqueiro. Na realidade, eu devia ser o único naquele vôo que não estava divido entre a dor de deixar salvador e a vontade de voltar a São Paulo: minha cabeça estava já nos Emirados Árabes.

Então, chegamos à Guarulhos e encontramos um cara vestido de preto que surgiu do nada e nos entregou os passaportes, sem nos olhar diretamente e se foi. Acho que poucas vezes Hollywood reuniu tantos clichês numa história só. Malas despachadas, horas feitas, fomos ao salão de embarque. Pelas janelas de vidro pude avistar um avião com uma escrita árabe em sua lateral, seguida pela palavra “Emirates”: era o avião que me levaria ao Oriente Médio. Agora sim, meu coração disparou e ansiedade foi lá pra cima, mas isso vocês já deviam ter imaginado...

sexta-feira, 20 de março de 2009

A borboleta e o se

Tenho uma amiga que é bastante certa quanto ao que espera da vida. Ela deseja ser rica e bem sucedida e não tem dúvida de que vai conseguir isso, afinal tem trabalhado por isso há muito tempo. Confesso que tenho uma certa admiração por ela nesse ponto. Eu carrego dúvidas comigo sempre um inifinidade de dúvidas, tantas que geralmente deixo as escolhas para o último momento ainda peço uma prorrogaçãozinha. Então, vejo beleza nessa capacidade dela de traçar uma meta e persegui-la com afinco e com tanta certeza. Mas, há uma questão que não consigo evitar quando penso nessa amiga: será (maldito será!) que um dia, lá na frente, quando ela tiver tudo que quer, ela não vai olhar para a vida e pensar que não tem nada do que precisava?


Em primeiro lugar, o ser humano é complicado. Embora eu ache que a gente simplesmente quer um pouco de felicidade e conforto, para aliviar as dores inevitáveis da vida, essa felicidade é cheia de detalhes. Aposto, por exemplo, que se essa amiga ganhasse cinqüenta mil reais por mês numa empresa em que todos ganham cem, ela não seria feliz. Outros, como eu, se ganhassem um salário desses numa empresa que corta as árvores da Amazônia para fazer papel e ainda vende os macaquinhos, seriam igualmente infelizes. Enfim, nossos desejos sempre vêm cheios de condições e variáveis, que tornam as coisas complicadas.


Então, eu fico pensando se ela não está simplificando sua vida e reduzindo tudo àqueles dois objetivos que mencionei. Será que ela não está criando um novo deus, o da fama e da riqueza, que é capaz de lhe dar tudo que ela precise? Algo tipo “tudo posso naquele que me faz rica e bem sucedida”. Se ela estiver feia, pode pagar uma plástica, se tiver problemas em ter filhos, paga uma inseminação artificial e por aí vai. Segundo ela, se gostasse de um cara com grana, ela casava agora, a despeito dos planos de só casar no futuro. Mas, que eu não me preocupasse, seria apenas por uns cinco anos. Pelo visto, o deus dela pode arranjar um casamento também.


Aí, fico imaginando se, lá pelos trinta e poucos anos, após terminar uma segunda graduação e ter feito a pós-graduação que ela planeja, já com um currículo bonito, artigos publicados e uma sólida rede de relacionamentos, minha amiga vai, finalmente, ter o que desejava e sentir algo estranho, aquela pontada na consciência que nossas verdades geralmente dão. Só que, nesse momento, ela ainda não terá testado seu deus e ainda restará esperança. Aí, ela deve arranjar um marido bonito e bem sucedido, ter um filho, fazer aquela plástica, construir uma casa e viajar pela Europa. Até que, aos quarenta e tantos anos, ela enfim terá tudo, mas ainda sentirá o mesmo vazio enorme, só que agora sem esperança de preenchê-lo. Vai sentir uma vontade de mandar tudo para o inferno: os amigos interesseiros, os filhos cheios de vontade, o marido ausente e o elefante branco que é sua casa. Contudo, essas coisas todas a possuíram ela mais que o inverso. Quem sabe o próprio capeta virá em pessoa dizer-lhe que tem duas notícias, uma boa e uma ruim: a boa é que ela não precisa mandar nada para o inferno, porque aquilo tudo já o é. A ruim é que, se, sendo assim, ela quer sair, não dá mais para fugir, vez que ele a prendeu de todas as formas possíveis.


Que situação mais cruel deve ser sentir-se presa pelos seus próprios desejos numa altura dessas da vida. Imagina dar-se conta de que todos os seus esforços serviram apenas para lhe aprisionar. Não quero aqui defender a importância da família, de ter alguém para dividir a vida e apoiar nos momento de dor, nem vou pregar a necessidade de cuidar de uma saúde espiritual. Apenas vislumbro a possibilidade de haver nela algo mais que dinheiro e reconhecimento. Enfim, apenas um monte de se, saído do dia-a-dia de um mosqueteiro pós-contemporâneo...