sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sereias no Buracão

Eu vi três Sereias na Praia
E suas peles, Branca, Morena e Negra
Mais que a pura areia branca
Davam Majestade à luz do sol.

Eu vi três Sereias na praia
E como é de praxe com essa espécie
Fui lhes pedir licença, para poder
dar um mergulho em sua casa

E Cada Mergulho foi um tapa
mãe Iemanjá estava irada
mas fora ela que me chamara!

Saí de fininho escondendo as marcas
Peguei minhas coisas e sentei numa pedra
e as sereias voltaram pra casa

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Pai de Santo

Então você pega sua calça e camisa brancas e sai de casa. A parte o fato das calças, bermudas e enfim, as "partes de baixo" sujarem com facilidade, eu adoro vestir branco, me sinto muito bem. muito bem, obrigado.

O problema é quando a gente encontra um conhecido. como eu não me ligo muito na reação de pessoas aleatórias, o que me incomoda é quando um conhecido larga "Tá parecendo pai de santo" ou "Virou pai de Santo foi?". Vem cá os pais de santo patentearam a porra da roupa branca, foi? Essa pergunta caberia se o tom da observação, subetendesse uma espécie de veneração, como se eu tivesse roubado o martelo de thor.

Aí eu fiquei pensando, se eu me visto de paletó e gravata, a reação mais negativa é "exame de fezes?", sem nem um tomzinho de escárnio, mas querendo dizer "tá bonito, hein? vou te tirar de tabaréu. fez exame de fezes?". Nem uma vezinnha um "Virou advogado, foi?" além de vários "Tá bonito, hein!" (meu ego agradece).

Então, pra mim virou um problema com religião, que nem é a minha, diga-se de passagem (oficialmente não tenho uma). Aí eu fiquei lembrando das dezenas de "amigos" que já me fizeram a tal "observação", alguns sem áspas, o que ameniza o sentimento de indignação em parte. Aí cheguei à conclusão de que nenhum desses perspicazes observadores eram, digamos, fundamentalistas religiosos de onde poderia tirar algum tipo de conclusão fácil, já que eu não deveria usar "essas coisas de demônio", seria simples, mas nããããão, os observadores incluem aquele broder mais muito doido dos mais muito doidos, que já deve ter sido classificado de tudo de "ruim", já deve ter se metido com (e sido) todo tipo de pessoa, das mais desvairadas, usado todo tipo de drogas (nada contra aqui, só querendo fazer um caso), e sendo julgado, rotulado e escrachado por tudo isso e ainda mais, conviveu ou convive, com "todo tipo" de pessoa e ainda respeita aquele outro por ser diferente, vez ou outra estuda alguma opressão ou de gênero ou de classe ou étnica, mas na hora que vê um camarada de branco se sente na obrigação "moral" de fazer as tais "observações".

Mas é óbvio, disse eu pra mim mesmo. Já foi crime ser pai de santo. e numa sociedade tão apegada a suas raízas escravocratas não pode se desfazer dessa. Pai de santo é coisa de preto e macumbeiro, coisa de filho do tinhoso. aí não pode se vestir de "gente desse tipo aí". Antigamente era só a "polícia" do império ou da igreja, hoje em toda esquina tem um escomungado que parece membro voluntário dos Dedos Duros da Família com Deus pela Liberdade... Mas aí você está pensando "ah, mas eu não falo na intenção..." ou "mas eu respeito muuuito o candomblé, até vou em terreiro nas festas" ou "ah!, mas isso aí já acabou faz tempo".

Sua intenção não importa, a frase tem um contexto quer você queira quer não; Se você respeita diga outra coisa, tipo, Branco te cai bem ou Branco te cai mal, ou Quer virar refletor, qualquer desgraça serve; Não, não acabou seu alienado.

sábado, 3 de agosto de 2013

Eu queria matar você

eu queria te matar. matar como o pessoal da ditadura matava, aquela morte retroativa que desfaz o nascimento. queria não pensar mais em você, não lembrar mais, nem sentir as vibrações da sua existência. assim, eu me sentiria puramente só de novo e totalmente irresponsável. a sua existência não teria mais peso para mim e a minha existência não pesaria tampouco. não sei se o problema está em você ou em mim, mas eu lembro dele quando lhe vejo. talvez, essa morte assim fantasiosa, essa com efeitos modulados, poderia se aplicar a mim. seria um suicídio baseado numa técnica alemã, com um nome grande, que significa morte parcial, de um pedaço que passa a nunca ter existido e que não acaba com a vida toda. uma interpretação conforme.

desconfio até que você gostaria de me matar também. ainda mais desse modo parcial, porque poderia satisfazer o desejo de me amar e de me odiar ao mesmo tempo, num só gesto. a questão que restaria é essa: será que nossos eus pós phantasievollskonformauslegung, esse eu sem eu mesmo e esse você sem mim, se encontrariam de novo sem saber que estiveram juntos uma vez, se apaixonariam de novo e chegariam nesse mesmo lugar que estamos agora?