sexta-feira, 3 de outubro de 2008

DESVENTURAS NA NIGÉRIA

Capítulo 2


O aeroporto internacional de Lagos Murtala Muhammed não é muito diferente de uma rodoviária do interior da Bahia. Maior que muitas, com certeza, mas com um estrutura bem parecida. O salão em que desembarcamos do avião, e que mais tarde embarcaríamos para casa novamente, tinha paredes quase que inteiramente de vidro, bancos verdes de fibra, diversos buracos no forro do teto e nada de ar-condicionado.


À este saguão se seguia um longo corredor, com uma esteira rolante desligada no meio, que terminava em duas escadas rolantes. Ao pé das escadas haviam duas portas de vidro com propagandas de um banco local que impossibilitavam ver o que estava do outro lado. Lá eram os balcões da alfândega e sua respectiva fila. Assim, as 500 pessoas que estavam no avião iam chegando e descendo as escadas, sem saber o que lhes aguardava lá em baixo. A medida que a fila crescia, ela se aproxima do pé das escadas, até que, em determinado momento, as escadas se transformaram em catapultas, lançando pessoas contra a fila.


Quando desci a escada, tive a infelicidade de ocupar um dos últimos espaços entre a fila e a escada. Meu primeiro pensamento foi, “isso vai dar merda”, e ato contínuo olhei para trás. Lá no alto, vi as pessoas chegando e freando bruscamente ao ver a confusão cá em baixo. Vi também que um cara, três vezes o meu tamanho, não tinha se dado ao trabalho de parar e descia a escada tranqüilo, acreditando piamente que havia espaço para ele. E, de fato, ele arranjou espaço para si, eu e mais umas duas pessoas é que não conseguimos mais.


Ao menos esse sufoco durou apenas uma hora, afinal eram apenas quatro guichês, com suas respectivas caras feias, que tentam lhe convencer que eles estão realmente olhando o seu passaporte.


Do lado de fora, o aeroporto já não parecia mais com uma rodoviária, mas sim com a Avenida Sete em época de natal. Uma horda de pessoas nos abordou oferecendo carregar as malas. Como eles conseguem ser bem contundentes na oferta deles, não bastava dizer não, tínhamos que brigar para que as malas não fossem levadas. Haviam também uns funcionários do aeroporto gritando que a gente não podia ficar e devia ir andando, sem falar nos policias que faziam nada, a não ser engrossar o caldo, com fuzis nas constas, para aumentar a emoção.


Nessa confusão, um dos nossos anfitriões se aproximou, deu um tapa no meu ombro e disse “Mr. Daniel, bem vindo, pode deixar que eu levo sua mala” e eu que já estava desesperado ali naquele caos, respondi “largue minha porra, que num vai ter merda de trocado nenhum!”. Sorte ele não falar português.


Contudo, os esforços foram em vão e nos desgarramos todos, malas, colegas e, especialmente, as noções de alguma coisa. Não faço idéia de como fui parar no estacionamento, sei que lá estávamos todos novamente, além de umas cinqüenta pessoas que queriam ajudar a colocar as coisas nos carros. Mas, isto era uma coisa que teria que me acostumar na Nigéria, sempre tem um monte de gente observando e procurando uma brecha para se meter no que você está fazendo.


Ainda no estacionamento, notei que quase todos os carros eram de luxo, de corollas em diante, e que todos tinham mossas e arranhões na lataria, prenúncio de um trânsito verdadeiramente caótico.