domingo, 12 de dezembro de 2010

Por que Direito?

Eu sei, não precisa dizer: direito é um porre. No máximo, há um julgamento ou outro que é interessante. Mas, o legal saber se ele matou, se ela traiu, onde está corpo, enfim. Quando a discussão é se o pleito por novo júri é regra processual e tem aplicabilidade imediata ou se ela tem um cunho de direito material, aí a porca torce o rabo.

Até assuntos interessantes como a física e seus experimentos enigmáticos, suas viagens no tempo, seus inventos e tudo mais perdem completamente o brilho quando se fala nas Leis de Newton ou na Segunda Lei da Termodinâmica. Ou então a religião, de onde Dan Brown arrancou tanto fascínio, fica imediatamente entediante quando aparece o Juízo Final. É só colocar direito no meio que a coisa desanda.

O problema é que às vezes preciso viver a vida que dá para viver e fazer as coisas que podem ser feitas.

Seria muito melhor se eu pudesse vir aqui e dizer as palavras definitivas sobre a vida e dar os caminhos para a felicidade. De certo, tem poucas coisas tão angustiantes do que se ver impotente diante de um amigo, de um parente ou de alguém que se gosta e que está num momento difícil da vida.

Acho que todos já estivemos diante de uma pessoa que estava fazendo todas as coisas erradas e caminhando direto para quebrar a cara. Sentimo-nos até um pouco videntes, olhando para a situação e antevendo todos os efeitos. Mas, por mais que tentemos avisar o sujeito ou a sujeita, eles só vão compreender o que dissemos no final, quando, sem meias palavras, a merda estiver feita. Experiência parece não cortar caminhos. Pelo menos não a experiência alheia.

Há também momentos onde se passa o oposto e não há qualquer sinal do que está por vir. Isto quando os amigos vêm a nós diante de uma escolha difícil, onde ambas as alternativas são igualmente ruins. Dá até um alívio por não estar naquela situação, e um pouco de vergonha por sentir isso. Só que acho que esse alívio vem só para amenizar a empatia com a dor do outro.

Tenho a impressão de que essas dois momentos têm o mesmo resultado, a angústia de não poder fazer nada e de não ter nada de verdadeiramente útil para dizer. Seria fantástico dizer “corta! isso aqui tá muito ruim. Vamos começar tudo de novo!”. Aí era só mostrar o roteiro da vida, onde o mocinho casa com a mocinha no final e todos são felizes para sempre, exceto o vilão, que paga com a própria vida as maldades que fez durante a história toda.

Contudo, não acredito em mocinhos, em vilões, ou finais felizes. Esse roteiro também não acho que exista e se existe está em lugar desconhecido, o que dá no mesmo. Só conheço mesmo esse sentimento de impotência e de inutilidade das palavras. Conheci também o valor de um abraço nesses momentos, que costumam a dar um pouco de paz para quem está vivendo o momento difícil.

Ofereço os abraços e os ombros, então. No meio tempo, vou fazendo umas perguntas sobre a vida, o universo e tudo mais.

sábado, 27 de novembro de 2010

Pra que direito?

Vou responder aqui porque não gosto de debater em comentários. é meio chato e não aparece no feed.

A primeira coisa que me vem à cabeça é garantir. e aí nessa hora o direito casa um pouco com a história de superestrutura e manutenção do status quo e tal. mas lembrando do marxismo, assim como o genótipo e o fenótipo na biologia, a superestrutura não fica estática acima e apenas aproveitando há um processo de renovação das bases da estrutura dadas as relações das superestruturas.

fora essa maluquice toda, o direito sempre pareceu muito abstrato. direito a moradia, direito de ir e vir, direito de "buscar a felicidade", direito a salário mínimo... o que é que são essas coisas? nesse contexto não há garantias para eles, porque há pessoas que moram nas ruas, há pessoas que não podem ira a determinados lugares seja pela violencia ou pela falte de condições de arcar com o transporte, e existem aqueles que ganham menos do que um salário mínimo. (Buscar a felicidade é uma menção à constituição dos Estados Unidos).

O que vem a minha cabeça é que o direito são aqueles pinos de escalada. você tem que metê-los lá no alto e depois usar muita força pra subir neles. E aí a confusão: De que lado está o direito? Como é feita a distribuição dos pinos? A história de revoluções sempre relata uma fase de ruptura e uma fase (talvez ainda mais sangrenta) de consolidação. Nessa seginda fase os grupos revolucionários, outrora unidos pelo ideal revolucionario, se separam para impor aos outros seu modelo de sociedade. em alguns termos eles concordam, em outros eles lutam por sua visão de sociedade criando assim certa gradação entre os sustentáculos da sociedades: Num extremo o núcleo duro central fruto da convergencia dos ideais revolucionários e no outro um horizonte bastante succeptível a convulsões sociais e, principalmente, da vontade do lado que se concentra o poder.

Se você considerar que do fim da ditadura pra cá vivemos no brasil uma "revolução democrática" na sua fase de consolidação, acho razoável pensar que o direito é algo que ainda está em disputa: Ora os liberais sugerem e implementam sua noção de sociedade (estado mínimo, auto-rregulação do mercado, flexibilização dos direitos trabalhistas), ora os socialistas dão o troco (fortalecendo estatais, garantindo os direitos de grupos sociais frageis, levando a diante questões étinicas e etc)

Ainda assim, acho - e você tem condições de saber melhor que eu - que o direito, pelo seu histórico de leis, pende para um lado. E o fato de o outro lado ter a possibilidade de correr atrás e reparar o erro reitera e fortalece ainda mais o termo "instrumento" como forte candidato a melhor representante da palavra Direito.

Acho que por isso que hoje existe pouca força em grandes revoluções, pelo menos no brasil. Hoje temos a possibilidade contcreta de disputar o Estado, de nos organizarmos e reivindicarmos nossas demandas. e quendo isso não puder mais ser feito aí que o couro come e a coisa rompe, voltando a fase um da revolução.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Direito para quê?

Uma pergunta tem me afligido nas últimas semanas e, como não vejo perspectiva de resposta, resolvi compartilha-la. Quem sabe alguém poderá trazer-me luz. Se não, pelo menos arranjo companhia para minha angústia.

A questão é simples, para que o Direito? A resposta, por outro lado, não parece sê-lo. Vou tentar expor minhas razões de forma sucinta e sem apelar ao juridiquês, até porque acho que o problema é maior que o Direito.

A maioria de nós, que frequentou a escola a partir da década de 80, estudou história com professores marxistas, que a expunham como um constante conflito de classes. Sempre havia uma elite que dominava os meios de produção e por isso explorava os demais. Assim foi na Roma antiga, nos feudos, na Europa pós-revolução industrial e de certa forma, ironicamente, na União Soviética, na China e em Cuba.

Nessa perspectiva da história, o Direito era mais um elemento da superestrutura, ou seja, um instrumento do sistema para manter o status quo. Os direitos de propriedade, os meios de cobrança de crédito e a seletividade do direito penal seriam provas disso.

No entanto, as inúmeras revoluções e convulsões sociais ocorridas nos últimos cem ou cento e cinquenta anos, muitas delas inspiradas no discurso marxista, provocaram mudanças significativas no Direito, que passou a falar também em igualdade de gêneros, em função social da propriedade, justiça social e outras aspirações das classes exploradas. Com isso, os juízes passaram a ter nas mãos normas que apelavam ao sentimento de justiça ao invés de ditarem comandos diretos.

Na realidade, expressões de ideais constam nos documentos jurídicos há algum tempo, vide a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e a Constituição dos Estados Unidos, de 1787, que já falavam em igualdade e em liberdade. E foi justamente com base nelas que os juízes da Suprema Corte americana entenderam que a segregação racial lá era constitucional.

A diferença agora é que estes termos são mais recorrentes e tem sido motivo para decisões inovadoras e, de diversos modos, revolucionárias. Nas cortes brasileiras abundam decisões permitindo casamento entre pessoas do mesmo sexo, libertando pessoas presas por pequenos crimes, repetindo um fenômeno que tem ocorrido em diversos países. Isso é de tal modo significativo que já recebeu nome, ativismo judicial, e é objeto de profundos debates e pesquisas.

O que se nota ultimamente é que o Direito vem se tornando um instrumento de mudança e transformação. Parece algo positivo e muitos juristas e jusfilósofos defendem abertamente esta nova posição.

A questão é que as decisões tomadas antes e estas mais recentes compartilham o mesmo desejo de fazer o melhor para a sociedade. Talvez as antigas estivessem repletas de alguma cretinice e de uma boa dose de narcisismo, por só ver beleza no igual. É possível que haja aqui um amadurecimento da sociedade. Porém, é de se questionar até que ponto este discurso apelando a expressões vagas - ao interesse do povo, a dignidade da pessoa humana, aos valores democráticos, dentre tantas - não vai descambar em outro extremo e dar ensejo a novas tiranias.

Outro detalhe me passa pela cabeça. Nosso governo e nossas leis não são apenas produtos de conchavos políticos e de interesses econômicos. Diversos grupos sociais organizados, como o movimento negro e os ambientalistas, têm representação no governo e têm voz ativa na vida política. Do mesmo modo, parte significativa do nosso direito é resultado da luta destes grupos. Portanto, o status quo não representa apenas os donos dos meios de produção, os detentores do capital e tipos congêneres, mas também grupos que sempre foram vistos como vítimas do sistema. Desse modo, é importante questionar até que ponto é bom para a democracia, ou seja, para uma sociedade construída para todos, romper com o este status quo.

Assim, pergunto novamente, que Direito é esse? Será que ele ainda é um instrumento do sistema ou se transformou numa arma da revolução? Será que esses conceitos, de sistema e de revolução, ainda servem para compreender nossa sociedade?

O problema de fazer perguntas é o mesmo de coçar as coisas, a gente começa inocente, sem nem perceber, e depois não sabe como parar.

sábado, 13 de novembro de 2010

Um Brinde

Eu proponho um brinde.

Um brinde à filosofia
Um brinde à política
Um brinde às problemáticas infindáveis da sociedade

Um brinde a Golden Smith
Um brinde ao experimental
Um brinde à boa música

Um brinde à praia
Um brinde à piscina
Um brinde às festas

Um brinde aos celulares
Um brinde à criatividade
Um brinde ao poeta Dumas

Um brinde ao convite inusitado
Um brinde à saída tardia
Um brinde ao teto do quarto

Um brinde às entrelinhas
Um brinde às entrelágrimas
Um brinde à lealdade

Um brinde à mudança
Um brinde ao novo
Um brinde à janela dos fundos

Um Brinde à viagem
Um brinde à visita
Um Brinde ao retorno

Um Brinde aos desafios
Um Brinde à maturidade
Um Brinde ao novo

Um Brinde às Privações
Um Brinde ao Trabalho
Um Brinde às Festividades

Um Brinde ao Horizonte
Um Brinde à Santa Maria, Pinta e Niña
Um Brinde ao Atlântico

Um Brinde ao Novo
Um brinde a Lisboa
Um brinde à Paz

Um Brinde à falta que você faz.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Imagens de Portugal

Após alguns meses de ostracismo (o quê será isso? comportar-se como uma ostra?), vou tentar reanimar o brógui com algumas imagens interessantes (pelo menos para mim), que me deparei aqui em terras lusitanas.

Qual será o significado desta placa:



Proíbida a pedofilia? E a detrás? Proibidas coisas azuis em geral?

Bom, em qualquer caso, quando vir alguma ilegalidade, basta ligar para o número de emergência:



Talvez dê algum trabalho, mas não perca as esperanças.

Por aqui, quem não quer bater cartão, faz curso:



Ainda há escolha, patrão local ou patrão de costas, pra quem gosta...

Por fim, não deixe de ir ao banheiro, se conseguir encontra-lo:



No mais é isso mesmo. Qualquer coisa, I'll keep you posted, sacou?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Recebi um email que não costumo abrir, com um link para o site um jornal cuja leitura não recomendo, onde havia um artigo escrito por um ex-político que não se deve ler. Sabe-se lá porque, eu não apenas abri a mensagem, como cliquei no link e li o bendito artigo. O pior de tudo é que gostei de ter lido.

O artigo chamava Eleição sem maquiagem e foi publicado no Estadão, por Fernando Henrique Cardoso. Ele falava um pouco da situação política, econômica e social, para ao final, obviamente, questionar a candidata do presidente, Dilma, e vender seu peixe, Serra. Tudo isso sem citar nomes e com a habilidade que é próprio daquele sociólogo.

As críticas deles não são levianas, longe disso, elas são bem fundamentadas e vem a calhar quando a oposição virou governo. O artigo expõe um contraponto necessário e sóbrio, que enriquece a discussão política. Enfim, opinião interessante e bem escrita.

Talvez, a grande lição ou a maior contribuição do governo Lula foi demonstrar a importância da mudança e das posições diferentes.

O único problema é que o autor é adepto do "faça o que eu digo e não faça o que eu faço", ou melhor, do "esqueça o que eu digo quando eu faço o que faço". Por isso é que, por mais que ele diga coisas interessantes, não se lhe pode dar muitos ouvidos.

De qualquer forma, o debate é válido. Fica aí a sugestão e a esperança de uma discussão política sem disputas partidárias.

sábado, 3 de julho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Diálogos Quase Inverídicos do Dia-a-Dia (22)

Uma metrópole, um engarrafamento, um carro em meio a milhares de outros, um rádio tocando Jorge Vercillo e um casal em silêncio há mais tempo do que ela gostaria de estar: 

- Que horas são? - pergunta ela.

- Seis - responde ele.

- Seis o quê?

- Horas.

- Horas? Como assim horas?

- Como assim “como assim”?! Você perguntou que horas eram e eu disse “seis”!! Que mais podia ser? Seis elefantes amarelos atravessando a rua?!?!?!!

- Eita que estresse! Você é todo impaciente comigo...

- ...

- ...

- ...

- Que horas são?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

DESVENTURAS NA NIGÉRIA

Estava hoje vivendo mais uma das idiossincrasias da modernidade – arrumar as coisas no pen-drive – e me deparei com os dois relatos que escrevi sobre minha ida a Nigéria. Diverti-me bastante relembrando os fatos ali narrados e tentando resgatar as emoções. Fiquei um pouco triste também de não ter levado adiante essa tentativa de registrar a viagem toda. Por isso, resolvi tentar fazer mais um capítulo aleatório e escrever as lembranças que não se perderam.

Capítulo 3

No final último do capítulo, nós tínhamos chegado ao estacionamento do aeroporto internacional Murtala Muhammed, após pouco mais de trinta horas de viagem, três aviões e uma horda de pessoas querendo carregar nossas malas em troca de alguns dólares.

Este capítulo começa após termos nos desvencilhado do mar de gente na saído do aeroporto e ter chegado ao estacionamento.

Como éramos um grupo de seis pessoas – quatro brasileiros e dois nigerianos, sem contar os dois motoristas – nos dividimos em dois carros. Contudo, o que devia ser um minicomboio, com um carro seguindo o outro, era uma disputa pela liderança, tão caótica como o trânsito lá fora. Os dois motoristas se ultrapassavam constantemente e sempre com muitos gestos irritados e palavras em ioruba que, pelo tom, não pareciam nada elogiosas.

Essa competição chegou ao seu ápice quando o motorista do carro em que eu estava decidiu fugir do engarrafamento e pegar um atalho, se afastando do outro carro que seguiu pela avenida principal. Isso é que suponho que ele tenha pensado, pois ele nada disse. Apenas vimos os carros tomarem rumos distintos e o nosso seguir por uma estrada de barro, em meio a casas paupérrimas, mesmo para os padrões da Nigéria.

Podia trazer aqui vários argumentos para ficar apreensivo naquele lugar, mas o único sincero é o preconceito. Aquele bairro mais pobre que o resto da cidade parecia, por isso, menos seguro. O fato de termos tomados caminhos diferentes também era preocupante. Cenas de assalto, seqüestro, tortura e outras idéias piores me passaram pela minha cabeça.

Mas, naquele país estranho, com aquela língua estranha, naquele carro estranho com anfitriões estranhos, a possibilidade de algo dar errado já estava nas alturas desde o começo. Então, embora aquele desvio parecesse digno de preocupação, achei que fazia pouco sentido passar a me preocupar naquele momento: o aumento no risco era estatisticamente irrelevante.

Porém – e eu aconselho ao leitor reler este advérbio com bastante ênfase – meu padrinho não teve o mesmo pensamento no outro carro. No nosso carro não podíamos ver o que ocorria no outro, apenas ouvimos o telefone do nosso anfitrião tocar e uma conversa onde ele parecia dar satisfações e pedir calma a quem estava do outro lado, como se estivesse tudo sob controle. Ele desligou o aparelho, comentou algo com o motorista, que imaginei ser algo tipo “esse pessoal se preocupa com besteira e vem encher meu saco”. Mas, as explicações não foram suficientes para o interlocutor e o telefone tocou novamente. Dessa vez, nosso anfitrião não disse nada, apenas ouviu berros. Visivelmente contrariado, ordenou ao motorista que fizesse o retorno e voltasse para a avenida.

Soubemos depois que a coisa ficou preta no outro carro. Meu padrinho já estava tenso desde a disputa pelas malas lá no aeroporto e seu resto de autocontrole foi para o espaço quando os carros se afastaram. Ele imediatamente começou a pedir satisfações de um modo bastante incisivo, para não dizer, mas já dizendo, violento. Quando ouviu o a resposta da primeira ligação ficou indignado, chamou todo mundo de incompetente e berrou:

- Stop essa porra agora!

Aquele “porra” ressoou pela avenida e, sem necessidade de tradução, todos os carros em um raio de 100 km pararam imediatamente.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Alguns comentários sobre a viagem ao Irã

Faz algum tempo que quero escrever algo sobre o acordo que o Brasil articulou com o Irã e a Turquia – aliás, faz tempo quero escrever qualquer coisa útil nesse blog. Mas, a questão é bem delicada e eu estou trabalhando ela em minha cabeça aos poucos. De certo, esse jogo da política internacional é complicado, as cartas que não são jogadas são tão importantes quanto a utilizadas, e nós só temos algum acesso a estas.

Eu sempre gostei muito da posição de Lula fora do país, apesar das diversas críticas feitas ao Presidente e ao serviço diplomático, no sentido de que ele se aproxima demais de figuras como Fidel e Ahmadinejad. Lá fora ele parece representar um país bem melhor do que o ele deixa em casa. Além disso, nunca achei que as visitas a Cuba e ao Irã fossem um desgaste, mas sim um privilégio de quem tinha tamanha admiração e podia conversar até com os fora-da-lei. Na minha perspectiva, Lula estava utilizando bem esta abertura, propondo novas alternativas para lidar com problemas já antigos.

Não nego que os governos do Irã e de Cuba tenham problemas graves, especialmente no que diz respeito à relação com seus opositores. Só que as formas com que se vem tratando estas questões – embargos econômicos, repressões políticas, invasões, etc. – já se mostraram ineficazes e extremamente danosas à população que se buscava ajudar. Esse foi justamente o gancho que deu a presidência à Barack Obama, um homem negro, de origem africana e algo muçulmana. Não é à toa que um dos seus primeiros gestos após eleito foi visitar alguns países muçulmanos e pregar uma reconciliação. Só que Obama parece não ser capaz de abrir totalmente das antigas práticas, nem de apresentar e sustentar métodos novos – vide o aumento de tropas no Afeganistão, a permanência de Guantánamo e o fracasso de Copenhague.

Por isso, quando li que Lula tinha conseguido concertar um acordo sobre o problema do Urânio no Irã, senti uma enorme felicidade e orgulho de ver que o Brasil estava assumindo uma posição independente e marcante no cenário internacional, aproveitando justamente esta demanda por novas perspectivas. Fazia tempo que não via tantas e tão positivas menções ao País nos jornais estrangeiros, sem nenhuma referência ao futebol, ao carnaval, ou à violência. Se tivesse seguido meu primeiro desejo de escrever aqui no blog, teria feito uma exultação deste momento.

Só que essa empolgação começa a ceder lugar diante da possibilidade de o Irã estar usando a ousadia do Brasil simplesmente para enfraquecer a posição estadunidense ou para ganhar tempo para preparar sua próxima jogada. Imagino que esta hipótese tenha ocorrido à Chancelaria brasileira e que eles decidiram assumir o risco. Isto, porém, não é motivo para se tranqüilizar, longe disso.

O que mais me inquieta é ver a forte resistência ao acordo firmado em Teerã, que começou com a crítica aberta de Hilary Clinton, acompanhada de diversos países. Até a Agência Internacional de Energia Atômica se irresignou, parecendo até ofendia por não ter participado do pacto. Mesmo os países que elogiaram a iniciativa brasileira, como a Rússia, estão apoiando a nova rodada de sanções contra o Irã, que conta com o aval de doze dos quinzes países que compõem o Conselho de Segurança da ONU. Segundo Lula, estes países não sabem fazer política sem ter inimigos. Ele deve estar certo, mas neste momento a afirmação pareceu uma verdade desesperada.

No início, entendi a posição dos Estados Unidos como necessária para manter a construção que eles vinham fazendo. Ela poderia servir inclusive para incentivar o Irã a cumprir o acordo firmado. Mas, começo perceber que, do ponto de vista estadunidense, os embargos e as outras tantas sanções nunca foram ineficientes. Estas só não serviam aos que queriam paz e outras quimeras do gênero, mas eras extremamente eficazes em mostrar o preço do desalinhamento. Talvez, tão grande quanto o avanço que a iniciativa do Brasil representou seja a reação encabeçada pelos Estados Unidos, para que se veja por aqui também o peso da independência.

Só espero que esta viagem ao Irã não se mostre uma tentativa inocente de mudar o mudo. Espero não sentir vergonha de um mico em meio à macacos velhos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ele é ferro e fogo!

é isso aí amiguinhos e amiguinhas ele chegou, um fan film de Eddie Lebron sobre o ciborgue azul mais muito doido do planeta. do ano 20xx é claro...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Padres Pedófilos e o Celibato

Pois é, enquanto a gente mosca, tem gente aí postando coisas altamente interessantes, participando de discussõe calorosas, etc...

Hoje mesmo, li um texto muito de um psicólogo chamado Contardo Calligaris, sobre o fim do celibato como solução para os casos de pedofilia entre padres. O título é Pedófilos, celibatários e infalíveis

Talvez até valesse a pena aproveitar o ensejo escrever algo sobre, mas bateu uma preguiça retada. Então, fica a sugestão de leitura e uma provocação para um debate posts futuros.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Mário e Odete

Lembram do Mário, marido da Odete? Pois é, nem eu. Só lembrava daquele do armário...


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Vai Uma Listinha Aí?

Não vou mentir, eu sempre me bati com esse negócio de milênios, séculos, décadas e afins. Sempre que ouço ou leio algo como “... blá blá blá a economia global na segunda metade do sec. XVIIPQP...” eu tenho que fazer um milhão de contas. Isto sem falar nos algarismos romanos que, com certeza, estão no bolo só para piorar o que já era complicado, afinal, que pessoa em sua sã consciência iria trocar números por letras que exigem uma equação para serem decifradas.

Pelo visto, eu não sou o único a se atrapalhar com essas contas. Digo isso pelo grande número de listas das melhores coisas da década que saíram na internet no final do ano passado e no começo deste. Se tivermos um pouco de paciência, fizermos apenas duas horinhas de contas e 28 consultas ao Google, descobriremos que nenhuma década se iniciou em 2000 e que 2009 também não encerrou nada. Na realidade, nós estamos vivendo o último ano de uma década que começou em 2001.

Mas, eu tenho que reconhecer que essas contas são um porre e só servem para os livros de história. Bom mesmo é fazer lista das melhores coisas da década, do século, da quinta-feira, o que for. Vale até escolher o melhor filme do ano em janeiro. Esse deve ser um dos ápices da vaidade e da arrogância e traz um prazer que só os pecados podem provocar. Vejam que Moisés fez sua listinha dos “10 Melhores Mandamentos” e mesmo Deus não resistiu à tentação de eleger os “7 Pecados Capitais”. Parece que esta última lista foi originariamente elaborada por Lúcifer e se chamava “7 Coisas Que Você Não Pode Deixar de Fazer Antes de Desencarnar”. Assim eu soube.

A coisa fica melhor ainda se você não esquecer de alguns pontos importantes. Em primeiro lugar, é essencial não colocar o seu favorito no topo da lista, porque ele será o mais atacado e você acabar com uma fratura exposta na vaidade. Outra coisa fundamental é não esquecer de colocar algo que ninguém conhece no meio da lista. Assim, você tem um trunfo para desmoralizar o crítico: “você não conhece?!?!?! Então você não entende nada desse assunto !!”. Mas, como as críticas são inevitáveis, é preciso também colocar lá no meio um item altamente discutível. Assim, você concentra os ataques num ponto só e ainda criar a possibilidade de sua lista se propagar como tema de debates.

Enfim, acho que fazer listas só não é melhor que dar conselhos, mas isso são outros CDXCIX. Por enquanto, vou ver se faço uma listinha das 20 Melhores Qualquer Besteira da Década. Quem sabe depois eu lanço um livro com “Não-sei-quantas Coisas Que Você Precisa Saber Antes de Fazer Uma Lista”.