segunda-feira, 14 de maio de 2007

Despertar

A primeira coisa que você repara é que você não está morta. sua visão desembassa e vai se ajustando aos poucos à pouca claridade. acima de sua cabeça uma armação de madeira coberta com sedas de cores quentes. Um pouco mais ousada você leva sua visão ao seu corpo, coberto com um vestido vermelho vivo. talvez longo demais para ser seu. na verdade você tem certeza de que não é seu. as dúvidas de como ele apareceu se misturam num turbilhão de pensamentos em flashes da noite passada. Tinha aquele cara lindo no bar. você lembra de conversar com ele, apesar de não te ocorrer o motivo pelo qual você estava naquele lugar. e depois de alguns drinks foi convencida a ir até a casa dele onde estava havendo uma festa. se pegou pensando como havia aceito a proposta. Geralmente era astuta e mandava ese "tipinho" barato pra longe. mas ele não era barato, não só por ser rico e provavelmente o era, mas mil desses foram da mesma forma que vieram a você, ou melhor, com um pouco menos de dinheiro. que importava tanto pra eles quanto pra você. Trazida de volta pelo uivo na janela, uivo causado pelo vento, imediatamente pôs seus braços em volta dos seios até que suas mãos atingisem os ombros opostos. sem perceber, no entanto, que aquilo não fazia muito sentido. não estava frio. o que fazia menos sentido ainda. já que àquela temperatura milhões morriam nas ruas. movida por um impulso você levanta e segue até a janela. o som do mar. a visão do mar. o choque com as rochas. a lua, no limite da sua invisibilidade, forçava sua entrada triunfal na noite por um veio de prata. aquilo te paralisou. depois, e o tempo é irrelevante, volta seus olhares para o quarto. não sente frio. procura alguma coisa. seu corpo não mais reage alergicamente ao salitre. não sente o ar frio nos pulmões. e tem uma certeza. você tem sede

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