terça-feira, 6 de maio de 2008

DESVENTURAS NA NIGÉRIA

Decidi contar minha viagem à Nigéria aos poucos. Na verdade, já estou começando este relato com bastante atraso e muitas coisas acumuladas. Meu desejo era despejar num fluxo de consciência todas as coisas que vi e senti desde que cheguei na África. Mas, não quero desperdiçar minha pólvora num só tiro. Além do mais, assim não preciso fazer um tratado e poupo os eventuais leitores e a mim também.


Capítulo 1

Da minha casa em Salvador ao hotel em Abeokutá foram cerca de quarenta horas de viagem. Isso mesmo, quarenta horas: apenas suportáveis por força da expectativa de realizar um sonho. Saí às seis da manhã de domingo para fazer o primeiro trecho da viagem, quando cheguei no hotel eram quase dez horas da noite de segunda-feira, após um voo doméstico, dois voos internacionais e cerca de duzentos quilômetros percorridos de carro – não, eu não de camelo.

Comigo foi um grupo de mais quatro pessoas. Indivíduos e profissionais completamente diferentes, com rumos igualmente distintos, reunidos ali para vender semáforos na Nigéria. Eu estava lá porque meu padrinho era o dono dos semáforos, além de falar inglês e fazer Direito.

Apesar do longo percurso, a expectativa fez viagem ficar bastante divertida. Das onze horas de São Paulo a Paris passei um bom tempo entretido com televisão individual que tem a frente de cada assento, e rindo de meu tio se batendo com a dele. O resto do tempo foi no fundo do avião, tomando whisky e fazendo a velha resenha. O papo teria continuado não fosse foi interrompido por uma voz dizendo, “senhorras e senhorres, porr favorr sentem-se em seus lugarres, pois vamos iniciarr o prrocedimento de pouso e em alguns minutos estarremos chegando no aerroporrto Charles De Gaule”. Quando cheguei em meu lugar, tive a feliz oportunidade de ver Paris de cima. A cidade parece realmente bonita, com o Sena e a torre Eiffel. Vi aquela cena desejando que as negociações na Nigéria fossem breves e sobrasse tempo para passear por aquelas ruas.

Infelizmente, a recepção no aeroporto foi bem pouco acolhedora. Andamos bastante por aquele aeroporto cheio de corredores sem fim até chegar numa fila enorme. Ela desembocava em dois detectores de metais. Coincidência ou não, todos na fila tinham cara de terceiro mundo, africanos e indianos principalmente. Então, mais uma hora esperando por duas máquinas para atender umas duzentas pessoas. Tudo isso sob os olhares de soldados com fuzis na mão. Alguém disse, “dessa vez tá mais tranquilo, em Janeiro tinha até cachorro”. Ainda pensei, “agora só tem os da fila”.

O ponto alto desta viagem foi sobrevoar o deserto do Saara. Não passava de um enorme pedaço de areia, a quinze mil metros de altitude. Mas era o Deserto do Saara, bem ali, na minha frente. A resenha e a fofoca no fundão pareceram menos interessantes desta vez e fiquei um bom tempo olhando aquele mundo de terra que não acabava nunca. Quase nunca: aos poucos algumas casas e estradas foram aparecendo em meio a terra. Estradas de barro, claro; desde a primeira casa até o aeroporto, vi pouquíssimas ruas asfaltadas, todas nos últimos minutos quarenta ou cinquenta minutos de viagem. Em muitos pontos era difícil saber se ali eram casas de verdade ou apenas mais um grupo de rochas. Mesmo onde se via asfalto, eram longas avenidas que cruzavam um mar de barro. Daquela altura não se via ninguém, nem tampouco se podia imaginar alguém vivendo naquela paisagem.

Quando uma voz feminina disse em francês que apertássemos os cintos, pois em breve estaríamos pousando, senti um frio na barriga. Na verdade foram dois, o primeiro nada teve a ver com a chegada na Nigéria, até por que não falo francês. O importante é que quase não podia acreditar que de fato estava ali, prestes a pisar na Africa. Quando já estava guardando meus planos passar uns tempos na terra de Adão e Eva – os da ciência, claro – fazendo algum trabalho voluntário, uma oportunidade de conhecer a Nigéria, cm tudo pago, cai no meu colo, e por via totalmente oposta. Fiquei absorto nestas ideias e sentimentos, até que uma outra voz disse em inglês, “senhoras e senhores, bem vindos ao Aeroporto Internacional de Lagos”.

Bom, esse é o fim da primeira parte da história. Embora tecnicamente devesse continuar até a chegada no hotel, esse trecho merece um capítulo a parte.

5 comentários:

D'Artagnan disse...

mais, mais, mais, mais, mais...

D'Artagnan disse...

ah sim. vai ter festa dos ex alunos do isba. sábado agora

Aramis disse...

ps:. ÍAAAAA!!

Aramis disse...

e aí, essa segunda parte saí ou não ?

Saulo Dourado disse...

mais, mais, mais, mais, mais... [2]

'Alguém disse, “dessa vez tá mais tranquilo, em Janeiro tinha até cachorro”. Ainda pensei, “agora só tem os da fila”.'
uh.