eu queria te matar.
matar como o pessoal da ditadura matava, aquela morte retroativa que desfaz o
nascimento. queria não pensar mais em você, não lembrar mais, nem sentir as
vibrações da sua existência. assim, eu me
sentiria puramente só de novo e totalmente irresponsável. a sua existência não
teria mais peso para mim e a minha existência não pesaria tampouco. não sei se
o problema está em você ou em mim, mas eu lembro dele quando lhe vejo. talvez,
essa morte assim fantasiosa, essa com efeitos modulados, poderia se aplicar a
mim. seria um suicídio baseado numa técnica alemã, com um nome grande, que
significa morte parcial, de um pedaço que passa a nunca ter existido e que não
acaba com a vida toda. uma interpretação conforme.
desconfio até que você
gostaria de me matar também. ainda mais desse modo parcial, porque poderia
satisfazer o desejo de me amar e de me odiar ao mesmo tempo, num só gesto. a
questão que restaria é essa: será que nossos eus pós phantasievollskonformauslegung, esse eu
sem eu mesmo e esse você sem mim, se encontrariam de novo sem saber que
estiveram juntos uma vez, se apaixonariam de novo e chegariam nesse mesmo lugar
que estamos agora?
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