sábado, 3 de agosto de 2013

Eu queria matar você

eu queria te matar. matar como o pessoal da ditadura matava, aquela morte retroativa que desfaz o nascimento. queria não pensar mais em você, não lembrar mais, nem sentir as vibrações da sua existência. assim, eu me sentiria puramente só de novo e totalmente irresponsável. a sua existência não teria mais peso para mim e a minha existência não pesaria tampouco. não sei se o problema está em você ou em mim, mas eu lembro dele quando lhe vejo. talvez, essa morte assim fantasiosa, essa com efeitos modulados, poderia se aplicar a mim. seria um suicídio baseado numa técnica alemã, com um nome grande, que significa morte parcial, de um pedaço que passa a nunca ter existido e que não acaba com a vida toda. uma interpretação conforme.

desconfio até que você gostaria de me matar também. ainda mais desse modo parcial, porque poderia satisfazer o desejo de me amar e de me odiar ao mesmo tempo, num só gesto. a questão que restaria é essa: será que nossos eus pós phantasievollskonformauslegung, esse eu sem eu mesmo e esse você sem mim, se encontrariam de novo sem saber que estiveram juntos uma vez, se apaixonariam de novo e chegariam nesse mesmo lugar que estamos agora?

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