sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Bob

Bob estava resignado. Na verdade mesmo ele estava revoltado. Mas esse tipo de sentimento demandava explicações e argumentos concisos demais que ele não estava nada afim de expor ou entender. Tudo começou quando ele saira para comprar pão. Na volta da padaria Bob resolveu passar pelo bar vizinho cujo dono era seu amigo de longa data.

Ao entrar no estabelecimento, ainda fechado, Bob encontrou seu velho amigo atrás do balcão, obviamente secado as taças. Depois das corriqueiras liberdades envolvidas no processo peculiar de encontro de dois amigos homens, Bob que estava prestes a começar uma conversa burocratica relatando os detalhes que haviam mudado em sua vida nos últimos dois dias foi interrompido pela TV.

Ao contrário do que se poderia imaginar, a TV não pediu qualquer tipo de licensa, senão atravessou bruscamente o salão perturbando a conversa. Um ajudante do dono do bar a havia ligado e, já que todo homem daquele lugar era acima de tudo absolutamente honesto, Bob nem cogitou qualquer possibilidade dele ter feito aquilo de propósito. Nem ele, nem a TV e nem os dois em complô .

Interrompidos, foram forçados, os dois amigos, a olharem para a TV. Nela o presidente falava sobre como as novas medidas, taxas, privatizações, estatizações e mansões eram "para o bem do país". Todos ali sabiam, naturalmente, que o Lagarto mentia, e o mau estar ficou por conta do termo "mansões" e de como aquilo dava um tom irreverente ao discurso.

Os Lagartos, vale a pena dizer, eram muito bem articulados e sabiam muito bem o que escolher para beber o que os levou, naturalmente, a assumir a liderança daquele povo humano, apesar de odiá-los. Na verdade os humanos também os odiavam, mas acreditavam piamente na capacidade de escoher o que beber dos lagartos.

Ao final do discurso, o bar já aberto ganhou sua vida normal e os pequenos comentários sobre a irreverencia do presidente ao ter colocado no discurso a palavra "mansões". Mas de repente alguém disse algo que não queria dizer e alguém de outra mesa interpretou como algo que ele deveria ter tentado falar e, logicamente, o estabelecimento transformou-se num verdadeiro caldeirão. Focos de conversas e falas indignadas enchiam todos os cantos do bar, se unificando quando todos pareciam falar ao mesmo tempo a mesma coisa com outras palavras.

Em meio a esse pandemônio, Bob, imbuído do mais caloroso dos furores políticos evocou o nome da oposição. Silêncio sepulcral. Mais silêncio. Os olhos de todos se voltaram curiosos para ele que desceu da mesa. Devagar. O dono do bar o ajudou, passou o braço pelos seus ombros e, caminhando em direção à porta, disse-lhe: Os outros lagartos são piores. Bob resignou-se.

(Agradecimentos a Tio Douglas, pela inspiração. E pela idéia central. Na verdade é quase plágio...)

2 comentários:

Athos disse...

Não entendi uma coisa, se o bar tava fechado, de onde apareceu tanta gente?

D'Artagnan disse...

ele abriu enquanto o discurso rolava. é que o discurso do lagarto durou muito tempo e n valia a pena ficar narrando lenga lenga de político, ainda mais um lagarto...